Eliot sentia descontente o vento soprar sua pele gélida. O tempo chuvoso, com o céu encoberto por nuvens densas, impedindo de que a lua ao menos esgueirasse a mostra. Em meio ao cemitério as grandes copas das árvores arrebatiam, singulares como se acompanhassem a Eliot, que andava perante o solo batido.

Olhou um pequeno túmulo, sua lápide retangular, tinha uma cruz a cima e a escrita do nome da falecida: Nanda Fitsh, de 34 anos de idade. Aproximou-se sentando a beira, logo sussurros predominando seus ouvidos, de várias vozes simultâneas, juntas. Tornando-se mais intenso Eliot apanhou um caderno, tamanho mediano com uma capa de couro gasta. Assim escrevia eloquente finitos números que eram ditados, frenético mal piscara, com o olhar fixante.

" - 16.10.12.46.67.19.10.12.76.89.24.10.12.67.80... - " Seguiam os números ditados ao pouposo caderno.

Ao seu redor apenas secas folhas planavam ao ar com o vento, se deslocando do chão. Aparentava estar sozinho em tal lugar no momento

" - 30.10.12.67.30 - " Foram os últimos números.

Eliot largava a caneta tinteira, soltando-a da palma, deixando-a rolar pela grama ainda apático aos olhos e movimentos. Alguns segundos após virou-se para trás em relance, deparando-se com uma mulher de pele pálida, olhos profundamente azulados, além de seus cabelos compridos escuros.

Um sussurro novamente a seu ouvido, desta vez mandando-o se afastar. Eliot estremesse com um frio a espinha, obrigando-o a se afastar, caindo ao chão e em gatinhar de costas se afasta alguns passos, olhando-a. Logo com seus olhos tornando-se um tom de dourado mais claro e brilhante, o que geralmente acontecia, quando rondado de alguma alma ou simplesmente quando ouvia tais vozes.

A mulher levou-o a parece a encurralar, assim tentando trazer calma a situação, arquejou dizendo-lhe para que se contesse, e que ela nada de mal faria. Eliot escorou a parede, olhando algo além desta, observando tal alma da mulher da lápide onde, anteriormente, havia se escorado. Por um momento o menino sorriu, sendo que aquela era sua avó, falecida muitos anos atrás e, que mal conheceu Eliot, mal teve a oportunidade de, nesta vida, toca-lo ou conversar com tal.

Eliot por um momento havia se esquecido da mulher que estava a sua frente, entretanto voltou a olha-la, sem nada dizer apenas mostrando agora, um olhar curioso.

A mulher agora apossava uma expressão pensativa, Eliot levantou com a ajuda da mesma. Com a pergunta eminente, o garoto acentiu com a cabeça um tanto tímido, afinal, era mudo, não poderia se dirigir a ela verbalmente, além de que não sabia ao certo, se aquela mulher conhecia a linguagem de sinais.

Teve uma idéia, então Eliot retirou seu caderno revestido a couro, onde anteriormente escreveu arduamente por alguma rasão, números. Passou foleando as páginas e o que se viam eram números e mais números, porém, uma página antes da que se tornava livre para uso, tinha-se colada uma foto dele com seu pai.

Assim escreveu: "Sim, estou bem." mostrou, apagou e reescreveu uma nova frase: " Sou mudo moça, e o que é você?" levando a frente novamente para que ela lesse.

Mordeu os lábios de angústia e suspirou a seguir, logo Eliot apagou a última frase e começou a reescrever uma nova: "Você não parece ser humana..." logo pulou uma linha e voltou a escrever "Mesmo assim, me chamo Eliot."

Subindo a um pequeno para peito a trás, salta a este e se senta, olhando-a. Elitot foleou seu caderno novamente, pegando duas fotos, não era apenas uma. A outra era de seu pai e sua mãe juntos em seu dia de casório, podia-se ver que a mulher estava grávida de cinco ou sete meses, gravida de Eliot.

O menino escreveu novamente ao caderno: "Meu pai sumiu a duas semanas...E mamãe morreu quando eu nasci..." Cabisbaixo olhava as fotos.

Virou-se ao lado, desceu e ficou de costas a mulher, com as mãos a frente olhava a foto do casal que se encontrava a dentro daquele seu caderno, o mesmo de capa envelhecida, gasta e sofrida com o tempo. O ambiente estava nublado, o vento não poupava a se chocar contra o jovem. "Não estou com ninguém, não tenho ninguém..." Escreveu a folha e mostrou-a, ainda cabisbaixo.

Erguia a cabeça, suavemente, o vento aloprava o cabelo do jovem que agora abria um leve sorriso ao rosto e se aproximava, com passos curtos, até que entrava em contato, corpo a corpo, abraçando-a e deixando escorrer uma lágrima sorrateira. Naquele momento, largou ao chão o caderno que, aparentava ser tão precioso, assim como a caneta que estava ao lado.

Parecia não importar-se com o redor, se sentia seguro, estranhamente. Sim, Eliot tinha amor de seu pai, sempre teve, por mais que praticamente não parasse em casa ele tentava dar a seu único filho o afeto que acreditava e, sabia que merecia. O homem nunca confessou, porém sentia-se culpado pela pertubação do filho por meio de um mundo além do nosso, um mundo de que não se conhece.

Assim que se afastou, não se preocupou em enxugar as lágrimas. Recolheu o caderno do chão e, em uma folha limpa, escreveu: "NÓS não estamos sozinhos, não mais..."

Sorriu, estendeu seu braço em direção a mulher, e segurou. Seguiria ela, sentia confiança, conforto, e finalmente, sentia que ela era especial, que o iria fazer sentir-se normal novamente, sentir-se alguém feliz.